2014.08.21
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«Sabes, as pessoas passam pela vida como sonâmbulas, preocupam-se com o que não é importante, querem ter dinheiro e notoriedade, invejam os outros e esmifram-se por coisas que não valem a pena. Levam vidas sem sentido. Limitam-se a dormir, a comer e a inventar problemas que as mantenham ocupadas. Privilegiam o acessório e esquecem o essencial. …. Tenho de o aproveitar para me redireccionar, para rever as minhas prioridades, para dar importância ao que realmente tem importância, para esquecer o que é irrelevante e fazer as pazes comigo e com o mundo. … passei demasiado tempo fechado em mim mesmo… quero viver a vida, abraçar o que é realmente importante, reconciliar-me com o mundo… mas não sei se isto que tenho dentro de mim me vai deixar» [A fórmula de Deus – José Rodrigues dos Santos].

...voltei a folhear alguns enxertos do livro: «A fórmula de Deus» de José Rodrigues dos Santos. A passagem que transcrevo é quando uma das personagens toma consciência da sua pobreza de vida. O verbo amar começa a ser pronunciado de uma outra forma. Um amar que não é sentir, é confiar, obedecer, dentro da confiança absoluta. Este Homem encontra-se a revisar a sua vida, pois pouco tempo lhe resta dela. Eis um tomar consciência do quanto deveria ter feito, do quanto tenta fazer. Encontrando-se, queria reaver o tempo perdido, recuperar o seu lugar e o modo de como poderia naquele momento agarrar e retribuir aos seus o verbo amar. Detive-me nele e interiorizei principalmente estas duas palavras: «reconciliar-me com o mundo». Reconciliar será uma forma de amar? Acredito que determinados acontecimentos na vida fazem-nos ver de uma outra forma a vida. Abalam e restauram. Ganha-se e perde-se, imaginámo-nos, emocionamos, desfalecemos, avançamos, retrocedemos, voltamos a iniciar. Enfim, um leque de situações! Num hoje, estou cada vez mais convicta de que cada um de nós deve e tem que encontrar o seu lugar no mundo.
Este desalojar-se de si, tem que despertar em cada um a procura da palavra amar. Não é algo que possamos deixar estático ou arrumado numa gaveta. Todos temos muitas coisas para arrumar e para desarrumar. Por vezes desfazer-mo-nos de determinadas coisas, objectos, pessoas é para nós muito difícil e nada prioritário. O problema é que o amanha poderá não existir… Não queiramos acondicionar tudo como se o que acondicionamos viesse algum dia a fazer falta. O desapegarmo-nos das coisas, desinstala-nos e envolve-nos de diferentes formas. Porque tememos?


2014.08.19
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«Cuidado, pois existe um tempo em que 
não haverá retrocesso. 
E isso chama-se tarde demais!» 
[Isabelle Fochier]

Encontrei esta imagem na net.  No final de cada etapa tinha uma bandeira. troquei por uma cruz! Não sei a quem pertence.O que sei é que fazemos planos mas a realidade é bem diferente dos planos que fazemos. Somos penitenciários da via do Amor! Para viver é importante saber discernir e apreender sempre o novo que se nos assola acolhendo-o. Não é fácil. è limitador. Neste sentir não poderá haver dúvidas de que nos aproximaremos em velocidade estonteante do irreverente palco da vida preparado por um relógio temporal mas cujo ritmo é o que somos e o que trazemos em nós mediante o que ouvimos e sentimos, mediante noites de medo, de assombro, de duvida. Um mundo sinuoso, onde habita a instabilidade e a precariedade que trazemos em nós, que os outros muitas vezes fazem chegar a nós. Somos convidados a retirar as correntes que aprisionam este mundo apático, indiferente, desengraçado e destroçado? A pedalar a toda a força...Porque? Porque estamos demasiado camuflados prisioneiros das coisas. [já não falarei da azafama e correria que se espreita por entre ruas e ruelas, entre telhados e beirais das gentes. A quem ninguém escapa.] Será que conseguiremos despovoar corredores de gentes e abeirarmo-nos do silêncio que permite desacorrentar o nosso mundo? Será para isso que servem as minhas e as tuas férias? ou servem para nos cansarmos ainda mais? Continuamos a omitir a voz que clama, continuaremos a não saber ouvir este silêncio evocante e a declinar gestos? Quantas vezes mais fecharão e fecharemos esta porta? Quantas vezes mais visionaremos o mundo sinuoso que nos interroga e nos (des)localiza? Somos penitenciários do amor?!  E nestas ruas cansadas, seremos convidados um dia a calar. Nesse momento cerraremos os sentidos aos apelos do mundo. Fecharemos uma única porta. Somos penitenciários do Amor! E neste existir não há retrocessos.