2014.10.20
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«A reconciliação é o percurso do reconhecimento da
nossa fragilidade e a aceitação do nosso passado, seja ele qual
for. É este o percurso que torna o homem realmente livre e realmente
capaz de amar. O homem que perdoa, o homem reconciliado, é, antes de
mais, o homem que não tem defesas, que não tem barreiras, que não
está num ponto em que a verdade tem só uma cor. O homem
reconciliado consigo mesmo - e logo com o seu projecto - sabe que a
verdade não é uma cor, mas sim uma luz. Uma luz que pousa em todos
os lugares, iluminando, dando a cada coisa uma respiração mais
ampla. Por isso acho que o perdão não é uma demonstração de bons
sentimentos, mas um percurso longo e difícil de despojamento
progressivo que leva o ser humano a viver plenamente a sua condição
de filho.» [Susanna Tamaro]
Pergunto-me:-porque fugimos deste processo de
transformação? Talvez porque exija de cada um de nós, esforço e
dedicação ao longo de toda a vida. É complicado assumi-lo em nós
quando neste longo caminhar (re)nasce a aversão, o medo a vergonha
da partilha, um sentimento de perda... Assustamo-nos, repudiamos e
não integramos o sistema destes tempos fortes na agenda pessoal. Não
é que nos falte o tão afligido tempo de palavras. O tempo e as
palavras nesta questão são uma escolha que depende da prioridade
que atribuímos. Tem-se sempre tempo e palavras para o que se quer. É
nesta dimensão que deve residir o nosso querer mais profundo. Como
periodizar uma mudança intensa que circunscreve a forma de pensar e
de agir, os critérios e atitudes do perdão à reconciliação?
Naveguemos mar adentro e como diria um amigo:«Deixa o rádio SOS
ligado; posso meter água e precisar de ajuda.». Liguemos então.