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«Sabes, as pessoas passam
pela vida como sonâmbulas, preocupam-se com o que não é
importante, querem ter dinheiro e notoriedade, invejam os outros e
esmifram-se por coisas que não valem a pena. Levam vidas sem
sentido. Limitam-se a dormir, a comer e a inventar problemas que as
mantenham ocupadas. Privilegiam o acessório e esquecem o essencial.
…. Tenho de o aproveitar para me redireccionar, para rever as
minhas prioridades, para dar importância ao que realmente tem
importância, para esquecer o que é irrelevante e fazer as pazes
comigo e com o mundo. … passei demasiado tempo fechado em mim
mesmo… quero viver a vida, abraçar o que é realmente importante,
reconciliar-me com o mundo… mas não sei se isto que tenho dentro
de mim me vai deixar» [A fórmula de Deus – José Rodrigues dos
Santos].
...voltei a folhear alguns
enxertos do livro: «A fórmula de Deus» de José Rodrigues dos
Santos. A passagem que transcrevo é quando uma das personagens toma
consciência da sua pobreza de vida. O verbo amar começa a ser
pronunciado de uma outra forma. Um amar que não é sentir, é
confiar, obedecer, dentro da confiança absoluta. Este Homem
encontra-se a revisar a sua vida, pois pouco tempo lhe resta dela.
Eis um tomar consciência do quanto deveria ter feito, do quanto
tenta fazer. Encontrando-se, queria reaver o tempo perdido, recuperar
o seu lugar e o modo de como poderia naquele momento agarrar e
retribuir aos seus o verbo amar. Detive-me nele e interiorizei
principalmente estas duas palavras: «reconciliar-me com o mundo».
Reconciliar será uma forma de amar? Acredito que determinados
acontecimentos na vida fazem-nos ver de uma outra forma a vida.
Abalam e restauram. Ganha-se e perde-se, imaginámo-nos, emocionamos,
desfalecemos, avançamos, retrocedemos, voltamos a iniciar. Enfim, um
leque de situações! Num hoje, estou cada vez mais convicta de que
cada um de nós deve e tem que encontrar o seu lugar no mundo.
Este desalojar-se de si, tem
que despertar em cada um a procura da palavra amar. Não é algo que
possamos deixar estático ou arrumado numa gaveta. Todos temos muitas
coisas para arrumar e para desarrumar. Por vezes desfazer-mo-nos de
determinadas coisas, objectos, pessoas é para nós muito difícil e
nada prioritário. O problema é que o amanha poderá não existir…
Não queiramos acondicionar tudo como se o que acondicionamos viesse
algum dia a fazer falta. O desapegarmo-nos das coisas, desinstala-nos
e envolve-nos de diferentes formas. Porque tememos?