2014.12.14
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Homem de pequena estatura, mas com um coração simplesmente
imenso. Cantou a natureza, a fé, a eternidade e também o sofrimento sempre que
permitiram a união com Deus. Ágil como pássaro solitário o seu voo foi sempre
para Deus, num voo de peregrino convicto, de sábio humilde, de amigo do
silêncio, que viveu desposando apaixonadamente a Cruz de Cristo na sua vida!
Quanto mais o lemos, mais descobrimos neste homem pequenino
um contemplativo de olhar sereno enamorado por Deus, como se já em vida
saboreasse a glória dos eleitos.Que amável caminho nos propõe este místico! Um
caminho interior no qual a alma se despoja de tudo, para se encontrar no
infinito oceano de Deus. Um caminho em que nos vamos calando diante do grande
mistério de Deus, tocados e abraçados pela Presença que nos devolve confiança e
serenidade.
A vida de São João da Cruz é cristalina e luminosa, e por
isso o seu conhecimento estimula o ritmo da nossa. A força que dela emana
anima-nos a amar o Amor, ainda que tenhamos de confrontar-nos com as sombras, o
medo, a noite, as renúncias e as subidas íngremes.A Chama de Amor guiou-o e
inspirou-o, pelo que a sua doutrina permanece viva e actual! O seu mundo
espiritual povoa e cativa quem se deixa enamorar por Deus, guiado pela sua mão
de mestre. Pela sua mão vai-se para o centro, porque o Amor gosta de viver no
centro do centro. Aí vive Deus Amor que habitou o Santo e quer fazer morada em
nós.Conhecer São João da Cruz obriga a enraizarmo-nos nas suas palavras sempre
belas e cheias de Deus, como estas: «Fomos criados para o amor»! É nesta máxima
que muitas vezes me quero centrar, porque reconheço nela uma mola
impulsionadora de vida, um caminho de luz que silencia corações caminhantes…
A luz que brota desta frase desinstala e conforta em
profunda e harmoniosa unidade com o mundo e com Deus. Leva ao enamoramento de
Deus, tal como se enamorou de nós. E obriga a aperfeiçoar e a limar a alma, tal
como ele nos aconselha; e obriga a lavar todas as sujidades que encontrarmos no
nosso caminho interior, para que o amor que amamos seja o amor de Deus em nós.
Deixar-se guiar pelo mestre é um permanecer sólido e
vibrante no encontro com os seus ensinamentos, é cavar o nosso interior em
silêncios de inacabada procura. Tal busca só é possível se confiadamente
deitarmos pés ao caminho, porque a subida é difícil. Porém, lermo-nos em São
João da Cruz é fazer caminho com ele e só terminar na casa do olhar de
Deus.Celebrar a memória de São João da Cruz é a possibilidade de apreender a
procurar o caminho certo e estreito, pelo qual a alma se acerca mais
directamente a Deus. A sua experiência e o seu caminho espiritual são
dicionário fecundo para o nosso encontro com Deus pelo qual Ele se revela. É
convite ao abandono a deixarmos que o Amor nos leve às alturas da contemplação,
a buscar o encontro com o Amado. Quem melhor que ele fala da união com Deus?
Uma união que tem de ser dolorosamente buscada na fé e na esperança? Mas no fim
vence quem ama! É esta vitória que devemos querer nas nossas vidas!
A vitória de São João da Cruz recorda-nos que a bagagem que
trazemos, se não for divina deve ser rejeitada, num despojamento libertador de
todas as dependências. Os estorvos devem ser rejeitados para que Deus possa
preencher a nossa vida com a Sua presença feita de pequenos detalhes e de pequenos
nadas que nem sempre sabemos ver. Não procures mais, perde-te n´Ele, que Ele
está em ti! Faz como São João da Cruz, oferece‑Lhe os sofrimentos e os teus
nadas, e não te vanglories… Na pequenez da vida está a plenitude de Deus.Neste
homem o coração ardeu em fogo de amor, porque não arderia o teu? Hoje flamejam
os seus deliciosos ensinamentos, que continuam a seduzir-nos porque são de Deus
e nos atraem para o convívio do amor.
Vai. Segue o caminho iniciado no Baptismo: Despoja-te de
tudo para que Deus se agrade de ti, tal como se agradou e sentiu bem na vida de
São João da Cruz! Ó que belo projecto!