2014.12.14
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São João da Cruz [1542-1591]
Homem de pequena estatura, mas com um coração simplesmente imenso. Cantou a natureza, a fé, a eternidade e também o sofrimento sempre que permitiram a união com Deus. Ágil como pássaro solitário o seu voo foi sempre para Deus, num voo de peregrino convicto, de sábio humilde, de amigo do silêncio, que viveu desposando apaixonadamente a Cruz de Cristo na sua vida!
Quanto mais o lemos, mais descobrimos neste homem pequenino um contemplativo de olhar sereno enamorado por Deus, como se já em vida saboreasse a glória dos eleitos.Que amável caminho nos propõe este místico! Um caminho interior no qual a alma se despoja de tudo, para se encontrar no infinito oceano de Deus. Um caminho em que nos vamos calando diante do grande mistério de Deus, tocados e abraçados pela Presença que nos devolve confiança e serenidade.
A vida de São João da Cruz é cristalina e luminosa, e por isso o seu conhecimento estimula o ritmo da nossa. A força que dela emana anima-nos a amar o Amor, ainda que tenhamos de confrontar-nos com as sombras, o medo, a noite, as renúncias e as subidas íngremes.A Chama de Amor guiou-o e inspirou-o, pelo que a sua doutrina permanece viva e actual! O seu mundo espiritual povoa e cativa quem se deixa enamorar por Deus, guiado pela sua mão de mestre. Pela sua mão vai-se para o centro, porque o Amor gosta de viver no centro do centro. Aí vive Deus Amor que habitou o Santo e quer fazer morada em nós.Conhecer São João da Cruz obriga a enraizarmo-nos nas suas palavras sempre belas e cheias de Deus, como estas: «Fomos criados para o amor»! É nesta máxima que muitas vezes me quero centrar, porque reconheço nela uma mola impulsionadora de vida, um caminho de luz que silencia corações caminhantes…
A luz que brota desta frase desinstala e conforta em profunda e harmoniosa unidade com o mundo e com Deus. Leva ao enamoramento de Deus, tal como se enamorou de nós. E obriga a aperfeiçoar e a limar a alma, tal como ele nos aconselha; e obriga a lavar todas as sujidades que encontrarmos no nosso caminho interior, para que o amor que amamos seja o amor de Deus em nós.
Deixar-se guiar pelo mestre é um permanecer sólido e vibrante no encontro com os seus ensinamentos, é cavar o nosso interior em silêncios de inacabada procura. Tal busca só é possível se confiadamente deitarmos pés ao caminho, porque a subida é difícil. Porém, lermo-nos em São João da Cruz é fazer caminho com ele e só terminar na casa do olhar de Deus.Celebrar a memória de São João da Cruz é a possibilidade de apreender a procurar o caminho certo e estreito, pelo qual a alma se acerca mais directamente a Deus. A sua experiência e o seu caminho espiritual são dicionário fecundo para o nosso encontro com Deus pelo qual Ele se revela. É convite ao abandono a deixarmos que o Amor nos leve às alturas da contemplação, a buscar o encontro com o Amado. Quem melhor que ele fala da união com Deus? Uma união que tem de ser dolorosamente buscada na fé e na esperança? Mas no fim vence quem ama! É esta vitória que devemos querer nas nossas vidas!
A vitória de São João da Cruz recorda-nos que a bagagem que trazemos, se não for divina deve ser rejeitada, num despojamento libertador de todas as dependências. Os estorvos devem ser rejeitados para que Deus possa preencher a nossa vida com a Sua presença feita de pequenos detalhes e de pequenos nadas que nem sempre sabemos ver. Não procures mais, perde-te n´Ele, que Ele está em ti! Faz como São João da Cruz, oferece‑Lhe os sofrimentos e os teus nadas, e não te vanglories… Na pequenez da vida está a plenitude de Deus.Neste homem o coração ardeu em fogo de amor, porque não arderia o teu? Hoje flamejam os seus deliciosos ensinamentos, que continuam a seduzir-nos porque são de Deus e nos atraem para o convívio do amor.
Vai. Segue o caminho iniciado no Baptismo: Despoja-te de tudo para que Deus se agrade de ti, tal como se agradou e sentiu bem na vida de São João da Cruz! Ó que belo projecto!
2014.11.22
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...sabes, por mais que sejamos o nosso próprio tempo, às vezes somos o tempo de outros tantos conhecidos e desconhecidos e outros são os nossos tempos, às vezes sem sequer imaginarmos, às vezes propositadamente, às vezes ensonados às vezes muito acordados estamos num determinado tempo apesar de não sabermos muito bem porque estamos.